Eu conheci a Susan no inverno de 2009. Do lado de fora das enormes janelas do restaurante em que trabalhávamos, a neve caia sem parar e os termômetros sempre marcavam uns vinte graus negativos. Do lado de dentro do meu peito, eu só sentia saudades todas as vezes que lembrava que estava há mais de 7.000km da minha casa no Brasil.
Em uma das minhas repetidas e entediantes manhãs geladas abrindo o restaurante, os nossos olhares se cumprimentaram. Depois de acenos sonolentos e desencontrados, eu senti, com o meu quente sangue latino, uma sensação aconchegante de, finalmente, estar em casa, e sorri.
Entre acenos que ganharam sincronia com a repetição e palavras em um inglês separado pelo tempo, nos aproximamos. Passamos a dividir a mesma mesa no refeitório durante os nossos intervalos intrajornada e falávamos sobre todo e qualquer assunto que pudesse nos trazer para perto.
Depois de uma sequência de sorrisos encontrados, acenos precisos e muitos intervalos, recebi o convite para jantarmos juntos, com direito a apresentação à família. Escolhi a melhor roupa da minha mala de intercambista e fui. Animado e ansioso, cheguei sendo recebido com beijos e abraços dos filhos, das noras e genros e dos netos. Naquele momento eu esqueci qualquer saudade. Eu estava, definitiva e literalmente, em casa.
A temporada de inverno acabou e depois de nos despedirmos emocionados, com um abraço apertado e carinhoso, daqueles que só avó e neto dão, ela me entregou um cartão. Um cartão que reencontrei outro dia, antes de escrever um e-mail para saber como estavam as coisas. Mesmo há 7.000km de distância, me senti em casa mais uma vez.
Depois que eu conheci a Susan, passei a valorizar um pouco mais a companhia das pessoas que me querem bem, a desfrutar da presença delas, a entender que todo mundo tem alguma coisa bonita para deixar no outro e a perceber que a vida está cheia de grandes histórias que nos aquecem e que nos colocam em casa, independente de onde: a gente só precisa se conhecer de verdade.
Obrigado, Sue.
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